Como o relevo de Porto Alegre e as ‘marés de tempestade’ travam escoamento da àgua

Porto Alegre

O relevo de Porto Alegre é um ponto-chave para entender o acúmulo de água que causa enchentes na região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul. Em um cenário de chuvas intensas e constantes há 10 dias, o lago Guaíba bateu a máxima histórica de 5,33 metros e deve permanecer acima da cota de inundação (3 m) até a próxima semana.

Em todo o estado, 397 de 497 municípios foram atingidos pelo desastre climático. A tragédia causou 90 mortes e deixou mais de 130 desaparecidos até a manhã desta terça-feira (7). O número de feridos passa de 360.

Juntamente com o relevo da capital, também contribuíram para a gravidade do cenário da Grande Porto Alegre causado pelas chuvas extremas:

  1. a formação topográfica das regiões no entorno da região metropolitana;
  2. a bacia hidrográfica da área;
  3. o efeito das tempestades no Oceano Atlântico.

Abaixo, entenda o papel que cada um desses elementos teve na maior enchente da história no Rio Grande do Sul.

1 – Topografia e relevo

Porto Alegre está localizada em uma planície, ou seja, em um território plano. Esse tipo de relevo é comum em áreas que ficam a poucos metros do nível do mar, que é exatamente o que acontece ali, já que a cidade tem uma altitude média de 10 metros.

Gramado, por exemplo, fica 850 metros acima metros do nível do mar, e São José dos Ausentes, município mais alto do RS, está a quase 1,2 mil metros de altitude.

Segundo Rualdo Menegat, coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre e professor titular do Instituto de Geociências da UFRGS, alguns pontos da cidade são ainda mais baixos e ficam no nível do Delta do Jacuí.

É o caso da zona norte do município, onde fica o Aeroporto Internacional Salgado Filho, que alagou e ficará fechado por tempo indeterminado, com todas as operações suspensas.

Em resumo, o lago que passa por Porto Alegre recebe a água dos rios e da chuva que cai na região central do estado antes de desaguar no oceano.

O especialista explica que os rios que formam o Delta do Jacuí e originam o Guaíba fluem em alta velocidade por causa da altitude de seus cursos. Normalmente, isso ajuda o Guaíba a desaguar na lagoa e seguir fluxo para o mar.

No entanto, com as fortes chuvas e as cheias dos rios da região, o lago está recebendo mais água do que o normal. Isso fez com que ele ultrapassasse sua cota de inundação — que é de 3 metros — e atingisse um nível de 5,26 metros na segunda (6).